terça-feira, setembro 30, 2008

anebrida

" ... Apesar de ter apenas 21 anos, já havia se interessado por muitas coisas, e desistido com a mesma rapidez com que se apaixonava por elas. Não tinha medo das dificuldades - o que a assustava era a obrigação de ter que escolher um caminho.

Escolher um caminho significava abandonar outros. Tinha uma vida inteira para viver , e sempre pensava que talvez se arrependesse, no futuro, das coisas que queria fazer agora.

´Tenho medo de me comprometer´, pensou consigo mesma. Queria percorrer todos os caminhos possíveis, e ia acabar percorrendo nenhum.

Nem mesmo na coisa mais importante da sua vida, o amor, havia conseguido ir até o fim; depois da primeira decepção, nunca mais entregou-se por completo. Temia o sofrimento, a perda, a inevitável separação. Claro, estas coisas estavam sempre presentes na estrada do amor - e a única maneira de evitá-las era renunciando a percorrer a estrada. Para não sofrer era preciso também não amar.

(...) Era preciso correr riscos, seguir certos caminhos e abandonar outros. Lembrou-se de Wicca falando das pessoas que seguem os caminhos apenas para provar que não servem para elas. Mas isto não era o pior. O pior era escolher, e ficar o resto da vida pensando se escolheu certo. Nenhuma pessoa era capaz de escolher sem medo.

(...) Lembrou-se de mais uma história com seu pai. Era um domingo e estavam almoçando na casa da sua avó, com a família toda reunida. Ela já devia ter uns quatorze anos, e estava reclamando que não conseguia fazer determinado trabalho para a escola, porque tudo que começava a fazer terminava dando completamente errado.

'Talvez estes erros estejam lhe ensinando algo', disse seu pai. Mas Brida insistia que não; que ela havia entrado por um caminho errado, e agora não havia mais jeito.

O pai pegou-a pela mão e foram até a sala onde a avó costumava ver televisão. Ali havia um grande relógio de pé, antigo, que estava parado há muitos ano, por falta de peças.

'Não existe nada de completamente errado no mundo, minha filha', disse seu pai, olhando o relógio.

'Mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia'"

Nenhum comentário: