sexta-feira, outubro 24, 2008

A Aldeia e a Montanha

- Esparta, você lembra disso aqui?
- Um papel amassado?
- Esparta, depende de como você vê. Pode ser um papel sem importância, um lixo que encontrei. Ou pode ser uma mina de ouro.
- Mina de ouro? Ora essa, como uma mina caberia numa folha velha?
- Você já se esqueceu - respondeu o jovem Cícero com um sorriso triste - Por que esquecemos o que é o mais importante, Esparta?
- Porque talvez não seja tão importante assim.
O céu começava a formar um jogo de cores formidável e Esparta entendeu que teriam de voltar. Havia apenas uma trilha que poderiam seguir e após o pôr-do-sol, a escuridão em breve tornaria difícil a caminhada de retorno à aldeia que estavam. O topo da montanha trazia um ar sereno e ao observar a imensidão à sua frente, abaixo, acima, pôde imaginar que era possível tocar o céu com a ponta dos dedos.
- Esparta, olha o sol que vai embora. É bonito, não?
- É sim.
- Mas se o sol nunca for embora, toda aldeia será prejudicada. Os rios irão secar e as pessoas vão sofrer com a sede. E a natureza... a natureza será destruída.
- Por isso temos a chuva.
- E não esquecemos que ela existe. Mesmo quando a luz do sol parece insuportável, sabemos que a água que cai do céu existe e chega no momento certo. Não é maravilhoso?
- Parece lógico. São as leis da natureza.
- E as leis devem ser respeitadas, Esparta. E recordadas.
O jovem Cícero segurou novamente o papel amassado e desviou o olhar para o horizonte.
- Qual a relação que você enxerga nesse papel velho com os mistérios da natureza? - perguntou Esparta intrigado.
- Que são iguais em sua gênese, meu amigo.
- Iguais? Não consigo entender. Veja bem, caro Cícero; você me diz que tens em tuas mãos uma mina de ouro. Pode ser um desenho de uma mina valiosa. Mas entre um desenho e uma mina de verdade, há uma distância alucinante. A natureza é diferente; o sol existe e o enxergamos quase todos os dias; a chuva não molha nossos corpos diariamente, mas já sentimos sua água abundante nos tocar. Então, sabemos que a chuva é real porque já a experimentamos algumas vezes. Nossos sentidos foram testemunhas. Portanto, mesmo que o calor seja terrível, sabemos que em um determinado momento, a chuva virá nos refrescar.
Cícero permaneceu em silêncio alguns instantes, até olhar novamente para o amigo.

- Esparta, seu raciocínio foi perfeito. E devido a esse pensamento, na qual um dia o escutei argumentar, que reafirmo o que disse a você. Nossas opiniões não são contraditórias.
Esparta encarou Cícero assustado. Fez menção para retrucar, mas o amigo continuou:
- Mesmo num dia de sol, acreditamos na natureza. Sabemos que a chuva chegará nessa montanha e na aldeia no momento propício. E não duvidamos disso. Aqui nesse papel aparentemente tão insípido, existe uma mina de ouro. Que realmente não cabe aqui, por ser grande demais.
- Mas afinal, o que tem neste papel? - perguntou Esparta.
- Meus sonhos, Esparta. Que vistos da aldeia parecem pequenos. Mas que seguirão um caminho, como o que andamos, até chegarem ao ápice de uma montanha igual a essa. E quando eu vejo meus sonhos com a mesma altura que estou aqui, simplesmente eu não duvido deles, assim como sei que a chuva nos refresca no momento certo.
Esparta o observou com o rosto pensativo:
- Sim, os sonhos são leis. E devem ser respeitado... e recordados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bah Ane eu sou somente meus sonhos, certo q em algum momento eu confundia isso com minhas alucinaçoes.....
Putz q texto delicioso adorei mesmo qdo comecei a ler estava um tanto quanto agitado mas foi me envolvendo de tal forma.....
Irado cuti mesmo,bah qero mais e viva nossos sonhos!
Bjs

Ana Pérola Veloso disse...

'quem tem um sonho não dança'. sabe aquela galera que nos chama de cruel, Caju? eles diziam que éramos sonhadoras demais. hahaha vê se pode?