quarta-feira, outubro 08, 2008

Carta Um

(à Ana Pérola Pacheco)


Um dia de outubro que contei oito vezes


Falando em cartas ...

Tenho pensado muito sobre as palavras que escrevi e as que deixei escapar; as que se esconderam em algum canto descalço e também aquelas tão distantes do que eu era - e que de alguma forma eu as rejeitava ou as desejava intensamente, tal como uma cegueira infindável.


Pandora às vezes me visitava, Anazézim. Na minha curiosidade, eu era capaz de superar os olhos aguçados daquela menina e ter em minhas mãos a caixinha mítica e aparentemente perigosa - mas quais males são eternos?
Eu tinha meu escapulário e Zeus sabia: meu escudo não valia ouro, minha arma não era de prata. Era vermelho e corria nas veias, percorria o corpo inteiro e alimentava meus pensamentos - ah, meus pensamentos! Escrever. Simplesmente escrever.

Suba no palco que nunca pisou. Conheça os holofotes que paralisam a visão! Já tentou decifrar a si mesma e conter a auto-flagelação? Ou então devorar-se por completo, mastigar os anseios e as alegrias? Só o ato de escrever te dá essa possibilidade. Você se reparte em mil rostos desconhecidos e ao mesmo tempo tão únicos, tão seus. O altruísmo e o egoísmo se fundem - a mão que te bate, te acalenta.

E, Anazézim, eu vivia aquele ato como quem vivia uma paixão urgente, uma paixão que talvez eu ainda não tenha sentido, ou quem sabe, a experimentei poucos dias, uma ou duas vezes: o espaço vazio seria preenchido longe de vaidades, distante de concordância e teorias literárias - seríamos apenas dois, como numa união de corpos. Escrever, de fato, era um caso de amor - era sexo, desejo, suor, ansiedade, prazer - como o prazer de desvendar a nudez de um amante.

Então, você percebe o que é talento? Não são palavras bonitinhas, nem palavras intelectualóides que a mente burguesa aplaude - é o dom concedidos àqueles que se entregam ao ato de escrever.
(se fundem, Anazézim, se fundem. não deixam o mecanismo de fora corromper a criação)

E eu tive medo. Medo de ter perdido isso tudo - essa realidade interna e latente.
Medo de ter deixado a criação em segundo plano e isso é inviável - mesmo que haja transpiração, não pode ser algo treinado. Tem que ser livre. E eu me sentia cativa, como se decorasse um livro didático.

Mas a poesia veio, Anazézim. Podia ser simples, podia ser mal entedida pelos outros, mas ela nasceu sob meus olhos outra vez. "Duas Meninas". Não me importa se é música, se não é, se é popular, se é ignorante, não importa... é minha! Só minha. E por ser tão minha também é de todos.

E eu nasci mais uma vez...

6 comentários:

Ana Pérola Veloso disse...

Você continuará constantemente nascendo em palavras.

Unknown disse...

Uma leitura que nos prende até o fim, nos proporciona um gostinho de "quero mais"; além de uma linguagem metalinguística sobre o ato de escrever na escrita. Texto de fácil entendimento e que transimte uma ótima sensaçao de liberdade. Simplesmente adorei, gostei muito, seja qual for a carreira, você sempre vai ter o meu apoio. Está nota dez.

Unknown disse...

Como faz bem pra vc falar comigo, hein? hahahahahhaah
o Ruan é um copião sobre o apoio!! =P
hahahahahhaha
Ane MOsollid escritora e entrevistada por Jô Soares em breve! anota isso aí!! =***
amo tu!

Unknown disse...

Ah, que papo é esse de copião?

Anelise Todt disse...

Obrigada pelos comentários!!

E meninos, se comportem, aqui é um recinto de respeito.. é?!

Ana Pérola Veloso disse...

Respeito, gente. Respeito!
kkkkkkkkkkkk